MATEIRO
Este reencontro não estava na ordem do dia.
Fui deitar. O tempo mudou de repente e o frio chegou. Ali, no sofá, fui saindo devagar e logo estava dentro de uma mata. Um homem estava me aguardando, era uma missão especial.
Notei uma dificuldade dele andar, porém não me ativei do porquê.
Fomos percorrer um caminho, ele como mateiro e eu como instrutor desta jornada.
Ele foi na frente abrindo a picada, limpando para podermos passar.
Minha cabeça começou a distinguir os fatos. Como ele não disse seu nome e eu também não perguntei, ficou somente no plano da necessidade.
_ Seu Augusto? É o senhor, mestre Augusto?
_ Sim, mestre Fernando! Sou eu seu discípulo!
_ Salve Deus!
Sorri. Fiquei tão feliz com este reencontro.
Para quem desconhece este destino, mestre ajanã deste amanhecer, Augusto, aparelho de pai Joaquim, morou aqui no templo por muitos anos. Ele era o mateiro que cuidava da casa de Seta Branca.
Um dia, por interferência humana, inveja, ele queria ir embora daqui do vale.
_ Mestre, se você sair daqui o seu cobrador vai arrancar sua perna!
Pai João também nos tronos lhe avisou que seria muito ruim para ele, já que no vale estava protegido.
Não adiantou, um dia arrumou suas trouxas e foi embora. Foi trabalhar em uma chácara em Morretes, Paraná.
Passou um ano ou pouco mais, quando estávamos na área reservada para nossas casas, um carro chegou com tudo, parou, jogou uma mala no chão, e logo retirou um homem mancando de dentro. Era o mestre augusto. Seu filho não o queria em sua casa e o despejou aqui para nós cuidarmos dele. Há, foi muito difícil e triste um filho abandonar seu próprio pai.
Não deu nem tempo de falar ou pensar. Foi uma falta de amor, não nossa, mas deste quadro de ajuste.
Eu já o tinha avisado que se ele fosse daqui não poderia voltar. Eu vi no seu caminho a amputação de sua perna e pai João também alertou.
Coloquei este homem no carro e o levei para a casa do seu filho em Curitiba. Como nós iríamos cuidar de um homem assim. Minha ninfa não era sua escrava e ele tomou sua iniciativa desobedecendo ao duplo pedido.
Agora, aqui, houve uma reintegração espiritual. Ele se comprometeu a trabalhar espiritualmente para me ajudar.
Eu olhava ele indo na frente limpando meu caminho. Não guardou sentimentos ruins, mas aceitou o que a vida lhe cobrou. Uma perna por outra perna.
Jaguares deste amanhecer, prestem atenção nos detalhes que a vida lhes oferece na individualidade. Não usem em vão os poderes que lhes foram confiados. Se vocês desconhecem as forças de um mundo espiritual ativo sobre as mentes humanas, não entrem pelo caminho da discórdia e desilusão. Não destruam por falta de consciência a esperança de uma nova era.
Quem destrói um sentimento destrói também os amigos tornando-os em inimigos.
Valorizem tudo e todos. Não sejam os carrascos da época mais triste que percorremos por não sabermos amar.
Não sintam inveja, mas se integrem ao caminho do Cristo. Ele veio na simplicidade de um caminheiro levando amor por onde passava.
O jaguar representa este Cristo no seu trajeto por este mundo. Cristo não levou discórdia, não disse ser rei, não levantou falso testemunho. Sofreu as dores de sua luta para evangelizar os humanos.
E o que mudou?
Eu me ajoelhei naquele instante pedindo a Deus os poderes das matas para recompensar este mateiro. Pai Joaquim chegou. Abraçou seu filho e o foi levando. Eu fiquei alegre e triste porque a vida é um instrumento, uma instituição de ensino. Ou aprende por amor ou pela dor. Muitos estão aprendendo pela dor. São como desafios que juramos passar.
Assim que terminou este reencontro eu voltei para meu corpo físico. Eu nunca imaginei reencontrar um velho amigo ajanã.
Quantos anos se passaram desde o seu desencane até este momento.
Valorizem suas mediunidades, suas intuições, seus sentidos mais aguçados.
Sejam felizes!
Amem-se!
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
19.10.2025