A IGNORÂNCIA MATA
Neste mundo atrasado de princípios vemos ainda como somos ignorantes.
Nesta viagem de acertos e desacertos minha missão era reunir uma família. Pai e filho que por motivos alheios às suas vontades estão distantes e deixando o ódio correr em seus laços de afinidade.
São do sítio. Moram quase juntos, porém a distância criada por eles os separou.
Cheguei primeiro na casa do pai. Era como se fosse da minha origem. Conversamos muito e ali fiquei sabendo dos seus filhos. O único que está assim com raiva do pai e dos irmãos não quer nem ouvir falar.
Fui atrás deste irmão e chegando no seu sítio ele estava em situação muito ruim. Estava endividado que já não tinha nem alimento dentro da sua choupana.
Me recebeu desconfiado, mas me recebeu. Com muita cautela e sem entrar no mérito da divisão fui doutrinando com muito amor e respeito. Ali eu estava pisando e cristais e se algo saísse errado poderia colocar tudo a perder.
Eu acalmei a fera cantando que vai ser avô. Nossa! Eu vi um pequeno brilho em seus olhos. Esta notícia mudou seu coração.
_ Seu neto nasceu e é uma criança muito linda, muito especial para nós!
Ele não falou nada, porém seus pensamentos falavam alto.
O suicídio estava na reta final, porque até seus filhos o abandonaram pela rudes de suas palavras. E tudo isso porque não houve tolerância entre família.
Eu fiz a minha parte com este homem e voltei a falar com seu pai. Lá contei a tristeza que seu filho vivia. Só, abandonado e desejando a morte.
Este homem entristeceu e as lágrimas desciam pelo rosto. Eu queria chorar junto por ver como não compreender a vida em família acaba resultando em consequências desastrosas.
Este pai foi até seu filho e chegando lá ouviu a bronca sem abrir sua boca.
_ Agora o senhor veio me ver! Agora eu sei o motivo, quer tomar meu neto de mim! Mas meu netinho é tudo que tenho nesta vida!
Eu estava presenciando um acerto de contas entre pai e filho.
O filho vomitava sua ignorância sem prestar atenção que seu pai idoso o amava muito.
Foram momentos difíceis. Alguém tinha que mexer nessa ferida que o tempo criou.
Todos passaram a me ver como se eu fosse culpado por este desencontro. Eu não desisti dessa missão por seus julgamentos, eu fui até onde minha permissão me dava direito de ir.
Ao voltar para a casa do pai carregando o velho sitiante junto os demais filhos nos aguardavam. Foi triste ouvir as palavras. Não de ofensa, mas de querer me responsabilizar. Eles diziam que estavam em paz, que aquele irmão era um renegado. Era pra ele ficar longe de todos.
Eu escutei calmamente as indiferenças. Fui colocando água na fervura. Quando já não tinham mais palavras eu descerrei meu rosário. Há! Ouviram o que não queriam ouvir. Não fui grosso, porém as palavras ditas em verdade machucam ou curam ainda mais as feridas.
A verdade veio a tona. Picuinhas entre irmãos. Nada tão grave que pudesse dividir a família.
Nós somos diferentes uns dos outros. Uns com mais sensibilidade e outros com maior rudes. Uma palavra errada mesmo em tom de brincadeira distorce a realidade. Foi isso que aconteceu.
Eu quebrei a barreira da ignorância dando voz ao ofendido. Foi um passo muito importante. Foi somente o começo.
O pai começou a contar sobre seu filho e todos ouviam calados. Ali eu vi um coração nobre de caráter. Foi como doutrinar aqueles espíritos dentro da razão porque ele falou a verdade.
Eu ouvia agora observando cada pensamento, mas ainda era cedo para avançar o sinal. Aquele filho era muito infeliz, passou muito tempo vibrando seu ódio e esqueceu de si mesmo. Estava perdendo seu pequeno sítio por falta de amor.
Nesta reunião familiar ficou decidido que cada filho fará sua parte para trazer o irmão de volta.
Vejam como o nascimento de uma criança muda o coração. Aquele homem rude agora estava agradecendo a Deus que seria avô.
Um banho de água benta conseguiu quebrar uma corrente vingativa.
Sei que no começo eu fui tratado como inimigo porque ninguém queria dar o braço a torcer. Alguém tem que voltar atrás e refazer os caminhos. Uma guerra se vence com inteligência, tática e coragem. A pior guerra sempre começa em casa.
Muitas vezes nossa ignorância não nos deixa voltar atrás e sempre culpamos alguém pelos nossos erros.
Vejam que nunca somos culpados de nada. Seria tão bom poder regredir no tempo e evitar as contrariedades que romperam os elos.
A palavra perdão é diferente da palavra desculpe. Nos ensinaram pedir perdão, mas não nos ensinaram a perdoar.
Neste primeiro contato eu quebrei as indiferenças. Sei que ainda foi pouco, mas para tudo existe um começo.
Ao ouvirem o velho pai falando a verdade as cabeças baixaram com ressentimento.
Não foi preciso eu falar muito, somente mostrei os erros mostrando a realidade.
Deixei este mundo e voltei para o meu. Há! Como somos importantes para Deus no socorro aos espíritos. O que falta muitas vezes é a sabedoria para entender os desígnios de cada ser encarnado ou desencarnado.
Não é somente meu privilégio viajar levando o evangelho no coração. Evangelizar não é ler o livro, mas praticar os exemplos do Cristo.
Eu vejo tantos evangelistas usando do livro para benefício próprio e não foi isso que Jesus pregou.
Amor, tolerância e humildade. Sim, este é o caminho da verdade.
Este primeiro contato mudou os destinos. Todos já se aprontam para visitar o irmão aborrecido. Tudo começa a mudar.
O velho pai alegrou seu coração. Fizeram o rancho para levar carregando suas carroças com tudo de bom e do melhor.
Sei que o ranso ainda perdura, mas alguém tinha que se meter nesta confusão e eu fui escolhido. Sobrou pra mim as pedradas.
Graças a Deus as coisas vão normalizar.
Entendo que foi o meu angical.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
11.06.2025
