LUZ
Que se faça luz.
Fomos em missão, eu e minha ninfa, para resolver um grande problema espiritual. Era um homem que fazia mandinga e apobreceu tanto que sua vida se tornou um espetáculo de coisas ruins.
Ao entrar no seu terreiro, que ficava nos fundos de sua casa, tinham muitos tambores queimados. Ao olhar para dentro deu até medo, era tudo macabro. A filha do chefe nos reconheceu e deu o sinal:
_ mãe, mãe, o mestre Fernando e sua mulher estão aqui!
Eu não consegui lembrar o nome do dono desta casa. Algo me impediu de abrir o registro.
Olhando para um dos tambores que tinha acabado de ser usado uma imagem de uma mulher estampou minha mente. Foi feito um trabalho para ela, uma amarração. Eu olhava para aquele espírito preso pela magia negra.
_ Entrem, entrem!
Falava a mocinha tão alegre.
De onde estávamos ficamos sem encostar nossos pés no chão. Não entramos. Falávamos mentalmente para não sermos ouvidos pelos orixás deste mundo. Eles acreditavam serem orixás, porém naquelas casinhas construídas na lateral do muro eram abrigos de exus.
Se vocês vissem a pobreza espiritual teriam medo ou suas reações faria com que saíssem correndo dali.
Estávamos em missão, por isso que enfrentamos a dura realidade. Era para libertar esta família deste mundo trevoso.
Algo não estava bom neste caminho.
Muitas vezes as pessoas fazem algo contrário ao conhecimento porque ouviram falar. São vozes que alimentam idéias fixas.
Olhamos e não concordamos, porém devemos respeitar o livre arbítrio.
A mocinha estava tão feliz que nos viu parados pelo lado de fora do portão. A esposa do chefe não saiu de dentro da casa. Ela era escrava espiritual dele. Sentíamos sua aflição em querer nos receber. Sem forças ou com medo das consequências somente projetou seus desejos de sair dali, ir embora com sua filha, serem felizes. Com suas mãos amarradas pelo mundo negro, ela, no começo achou bacana estar fazendo despachos para os sofredores, porém, agora, vendo o resultado despertou sua consciência.
Eles me conhecem, porque já vieram no templo. Eles não conseguem se libertar deste caminho porque dependem financeiramente destes rituais. Ganharam muito dinheiro para suas necessidades materiais e com isso atrasaram suas vidas espirituais. Eles dão, mas tomam dobrado.
Eu olhava para este mundo distorcido e a imagem da mulher prometida estava fixada em um dos tambores. Foi feito uma amarração. Receberam muito dinheiro para comprar esta alma.
Nós jaguares temos pleno conhecimento destes sistemas das velhas estradas, mas hoje viemos para libertar e não escravisar. Somos manipuladores da magia branca.
Aqui tentando lembrar do nome. Acho que pai Seta Branca não deixou.
Tem certas coisas que não precisamos conhecer. Isso evita um envolvimento com os espíritos sem luz.
Este foi primeiro trabalho para libertar esta família. Outros poderão vir acontecer. Tudo depende da permissão dos mentores.
Uma voz começou a invadir como um canto: Barré, barré… vinha da jovem que se recolheu para dentro.
Estava tão impregna o mal ali que eles não conseguiam ter vida própria. Registramos este local para a espiritualidade poder agir. Assim na terra como nos círculos espirituais.
Voltamos. Foi uma experiência triste em ver esta cena. Quem vê cara não vê coração.
É dado a liberdade aos homens desta terra para fazer o que querem de suas vidas. Se fizerem o bem crescerão e se fizerem o mal diminuirão.
Eu registro estas passagens para alimentar a esperança deste povo ainda adormecido.
Libertem! Amem! Respeitem!
Não queiram o que não vos pertence. Se vossos olhos não verem os vossos corações não vão sentir e desejar as coisas do próximo.
Que Deus tenha piedade destas almas.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
29.04.2025
