GRANDE VIAGEM
Serra do Mar, um lugar incrível e perigoso de entrar.
Nesta viagem eu fui buscar um remédio que só nasce nas profundezas deste mundo. É outro mundo entre altos e baixos relevos que parecem se multiplicar. Ao entrar eu amarrei a ponta do fiozinho quer se prende ao físico para em caso se perder.
Olhando eu achei no sopé da montanha a planta que parecia uma pequena palmeira. Não passava de meio metro. Retirei com cuidado para não ofender a natureza.
Os espíritos dos guardiões que vivem neste paraíso não gostam que entre sem permissão. Muitos desavisados entram e não saem mais, ficam perambulando sem uma bússola para guiá-los. O encanto das matas é traiçoeiro que te leva para mais longe.
A missão foi guiar os espíritos que precisavam desta erva, mas pensando bem foi mais para se impregnar desta energia das montanhas.
Agora, após muito caminhar, estávamos tão carregados de energia que o espírito ficou pesado. Não conseguíamos andar e nem pensar. Ergui meus pensamentos aos céus e tão logo uma chalana se materializou. Fomos recebidos por Tiãozinho.
Conversando com Tião ele queria mostrar algo que estava ou iria acontecer. A chalana partiu sem deixar rastros porque ela estava no etérico plano.
_ Meu irmão olhe para baixo!
Estávamos passando por cima de uma cachoeira seca entre as matas cortadas.
_ Veja bem! É a cachoeira de pai João e pai Zé Pedro! A cachoeira dos nagôs! Onde tudo começou! Hoje vocês a chamam de cachoeira do jaguar!
Fiquei pasmo.
Tudo seco sem uma mínima gota de água.
Eu fiquei observando este lugar tão distante e tão destruído. Era no nordeste do Brasil, onde os escravos foragidos da perseguição dos coronéis se escondiam. Diz ser abóboras, angical, ou outros nomes que os matutos celebram.
De cima eu via a destruição como se fossem saúvas se preparando para enfrentar o clima.
_ Olhe Tião! Meu Deus!
Eu estava tão decepcionado que engasguei com minhas palavras e meus pensamentos. Tião fez sinal de silêncio para poder registrar esta viagem. Eu até esqueci da plantinha e reagi ao desencanto que vi.
Depois de entregar os espíritos que foram comigo nesta viagem eu voltei para casa.
Eu tenho muito cuidado com as consequências de não poder mudar os rumos dos desastres. Eu posso até mudar o raciocínio humano, mas mudar as consciências é algo que só Deus pode alterar.
Estamos no caminho da destruição e os filhos de Seta Branca não estão enxergando. Estão presos ao físico lutando para obter os lucros do materialismo.
Eu sou leigo nesta trama entre desejos e sonhos. Não descuido para não ser pego na contra mão do destino. Orai e vigiai.
Ao voltar eu ainda segurava o ramo em minhas mãos. Até esqueci por qual motivo fui buscar na grande Serra do Mar. Seria uma erva curadora que traria benefícios para os missionários. Era um caule com um chapéuzinho em cima.
Deixei ali ao lado da cama e fui me deitar acordando meu corpo físico. Minha garganta e meus olhos estavam secos. Foi até difícil respirar. Levantei e lavei meus olhos com água de mãe Yara e bebi dela.
Foi algo muito além de viver somente pela terra. Tem muitos jaguares que são inconscientes em seus transportes. Eles simplesmente se apagam e vão trabalhar. Quando voltam não se lembram de nada. Eu vejo nos trabalhos com as entidades que trazem a verdade do céu para a terra.
Nem todos tem a vivência e vidência espiritual. Eu era um ceguinho antes de nascer, mas mereci esta oportunidade que Deus me deu. Hoje ainda continuo em busca da verdadeira missão que é ser melhor a cada dia.
Ser deste amanhecer ou não ser nada muda se as pessoas não tiverem coragem de mudar. É por isso que sou chamado porque eu não tenho medo de fazer.
Sou muito cobrado pelos espíritos que se prenderam pela reencarnação. Eu fujo para o além. Largo tudo o pouco que tenho na terra e me enfio no etérico plano em busca de mim mesmo. É lá que as riquezas são guardadas.
A maior riqueza é ter conhecimento da terra e do céu. Aprendi muito. Da terra nada se leva. Somente o conhecimento de tudo que é bom.
Tião me deixou aqui e partiu para sua missão. Ele tem muito trabalho recartilhando os espíritos perdidos.
Cheguei com fome. Vou fazer meu lanche antes de me deitar. Quem sabe outra missão me espera. Somente meu espírito sabe.
Sou filho do sol e da lua onde nasce a luz.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
06.04.2025
