Raposa do Deserto

RAPOSA DO DESERTO
Guerra, há estas guerras intermináveis dos homens desta terra.
Eu voltei para reaver um caminho onde um general, Ulisses, um nome ecoava, traiu sua tropa. Ele era um perito na condução dos soldados que o seguiam loucamente matando quem cruzasse seus caminhos.
Em certo ponto ele me traiu e por motivo pessoal, vejam, motivo pessoal, eu me virei contra suas ordens. Ele estava sentado e tivemos uma discussão que envolvia ordens militares. Muito esperto e atrevido não respeitava seus componentes. Ele era o comandante e todos cegamente cumpriam suas determinações.
O motivo não foi ordem militar, mas um desvio de conduta militar. Eu, no fervor da conversa, fui desafiado e sem pestanejar dei vários tiros em sua direção. Logo fui preso e retirado do comando considerado como traidor. Foi uma jogada deste general para se livrar dos demais militares que o ajudavam no combate. Eu não sei se acertei os tiros nele, mas a junta militar me condenou a prisão. Eu não desertei, me desertaram.
O revanchismo dura até os dias atuais. Os militares de lá comandam nestes 60 anos. Todo presidente de templo foi militar que veio resgatar sua tropa deixada no passado. Isso envolve gerações e mais gerações. Desde o Egito passando por vários impérios fomos militares a serviço da guerra.
O vale do amanhecer é o ponto final dos reencontros e reajustes. Porém não está acontecendo o pagamento das missões que se perpetuam nesta contagem. Não há libertação e sim condenação.
Nesta viagem de retorno eu tive a certeza que abri um livro que estava guardado a muito tempo. Eu ainda estou pagando para o general na formação do meu exército. Ele ainda vibra sobre minha missão fechando as portas.
Eu revivi cada momento desta passagem. Astúcia de levar a vitória derramando sangue inocente. Ali se o soldado morresse era considerado herói, se ele desertasse era punido no paredão. Não havia escolha, ou morre ou mata para viver.
Eu fui um sobrevivente que preso pelos legítimos irmãos fiquei largado em uma cela enquanto os demais eram atravessados pelos tiros. Fui salvo por um grupo inimigo que me levaram também preso, mas com dignidade de militar. Eu vi a diferença de comando. Dentro da base era como um nada e dentro do campo inimigo tive respeito.
Muitas vezes nossos inimigos são nossos verdadeiros amigos.
Eu vi muitas mortes. Corpos caídos nas areias escaldantes. Não havia tempo de enterrar. O exército tinha que avançar.
Muito tempo de aflição até que hoje eu pude reaver este momento dentro deste amanhecer. Quando os olhos não se abrem o mundo é uma escuridão total. Agora é como relâmpagos de claridade que despertam o conhecimento dentro da magia. Meu exército é de Deus. Como comandante de um povo eu tenho obrigação de ensinar o amor, o perdão e o respeito pela hierarquia.
O problema é que os outros ainda não despertaram para reavaliar suas decisões.
O general está reencarnado como eu também estou. Estamos na mesma luta para ultrapassar as barreiras impostas por nós mesmos. Eu o apoiei, porém ele me desertou. Quando um soldado deserta ele vai parar na corte militar. Ali ele pode se defender das acusações de traição a pátria. Quando não há defesa este julgamento passa a ser totalitário. O soldado somente recebe sua sentença e vai ser trancafiado.
_ General, general! Eu sou um sobrevivente desta guerra! Não tome novamente suas decisões equivocadas para não ter que pagar pelos seus erros! Eu peço perdão pelo equívoco, mas nenhum militar pode ser humilhado! Respeite sua tropa para que eles também vos respeite! Não adianta usar da força, porque todos vão lhe abandonar! E não será deserção e sim libertação! Poderás caminhar sozinho dentro do teu deserto!
Jaguares do amanhecer de Seta Branca. Se não tivermos amor de nada valerá esta espada. Com ela podemos ceifar vidas ou arar o solo trazendo vida. Plante o amor e as rosas irão brotar sem os espinhos dos desencontros.
Assim foi esta viagem de regresso ao mundo secretamente escondido.
Operação Raposa do Deserto.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
08.01.2025

Vale dos Deuses 1985